sábado, 26 de abril de 2008

"O meu Iberismo"

As relações entre Espanha e Portugal são e sempre foram caracterizadas por fortes contrariedades. Por um lado, a proximidade geográfica (âmbito peninsular, longa fronteira comum, partilha de grandes rios, base rural similar) aconteceu baseada num forte paralelismo social e político e recentemente económico. Teófilo Braga, já no séc. XIX, falou num caminho paralelo de Portugal e Espanha nada mais nada menos do que como fazendo parte da ordem natural dos tempos. De outro modo, estabeleceram-se entre os dois países enormes distâncias que chegaram até aos nossos dias, muitas vezes baseadas em princípios bacocos e provincianos.

A ordem natural a que levava a geografia foi distorcida pela geopolítica, principalmente pelo facto da Grã-Bretanha exercer sobre Portugal um controlo a vários níveis, principalmente económico e até militar, que de certo modo impediu uma aproximação maior a nuestros hermanos. Tudo isto causou entre ambos os países um afastamento notório.que só diminuiu com quando a influência inglesa decresceu devido às hostilidades entre britânicos e portugueses no Sul de África. O Iberismo começara então a florescer como criação portuguesa influente em Espanha, principalmente depois de 5 de Outubro de 1910.
Antero de Quental com grande entusiasmo fez ecoar as grandes criações daquilo a que ele chamou a raça ibérica: o seu espírito de independência, a resistência ao domínio romano, a capacidade de libertação do jugo feudal e a realização das grandes epopeias oceânicas.

O iberismo desenvolvido em Portugal originou um pensamento político sobretudo quando Teófilo Braga estabeleceu um plano concreto para a Federação Ibérica em cuja construção a Espanha deveria aceitar condições importantes para a sobrevivência política do espaço Ibérico: tornar-se uma República, dividir-se em territórios autónomos formando uma federação e estabelecer em Lisboa a capital da Federação Ibérica.

Pela mesma altura as mesmas ideias crescem na Catalunha, região tipicamente republicana onde sempre houvera grande resistência ao domínio de castela. O poeta Joan Maragall, num artigo publicado em 1906 no Diario de Barcelona, disse que a natureza ibérica, pelo seu solo, pelo seu céu e pela sua gente, parecia a terra prometida para concretizar o ideal de um novo federalismo, já não só político como também humano no sentido mais profundo da palavra. Algumas décadas depois, o jornalista Gaziel escreveu: "Poucas vezes a insensatez humana terá estabelecido uma divisão mais falsa. Nem a geografia, nem a etnografia nem a economia justificam esta brutal mutilação de um território único." E concretizou a dimensão política do seu pensamento, introduzindo a Catalunha nos afazeres da aproximação peninsular.
Após a entrada na União Europeia, a geopolítica não só deixou de colocar obstáculos à aproximação mútua como em vez disso a impulsiona cada vez mais. Gaziel acertou na sua visão determinante da História: "Não serão as vontades dos homens mas sim as leis da História que irão alterar a actual estrutura da Península Ibérica." Afirmação que se concretiza nesta outra: "A melhor forma de esta evolução se produzir será dentro de uma Europa unida."

As línguas, formas de identidade profundamente enraizadas nos confins do tempo pela influência dos vários povos que passaram pela Ibéria, à margem do poder político e económico, têm regras de difusão que se apoiam nas suas próprias estruturas. Devido à natureza linguística do castelhano, são muitos os portugueses que chegam a espanha e entendem a língua desde o primeiro dia, sem nunca a ter estudado. Ao fim de algum tempo falam portuñol e passado algum alguns fazem menos erros ortográficos que os espanhóis menos letrados. Portugal - em contrapartida à facilidade de se deixar penetrar pelo castelhano e pela influência dos ventos de Espanha - encontra o seu grande campo de influência na Galiza, essa região quase portuguesa onde se fala um português um pouco diferente, a que alguns e bem, começaram a chamar de português galego. Os complexos do passado, principalmente com suporte no suposto medo da invasão espanhola foram superados, e no âmbito da União Europeia e no das relações transfronteiriças, a aproximação de Portugal à Galiza e da Galiza a Portugal é cada vez mais sólida e profunda a todos os níveis.

Porque sou Iberista?

Ao contrário de alguns Iberistas que pretendem a aliança entre as duas casas reais, o meu Iberismo situa-se no campo ideológico diametralmente oposto, e isto porquê? Porque a Espanha como país nunca existiu. Existe sim um Estado Espanhol assente numa unidade, supostamente de âmbito institucional, em que um figura será motivo de união entre os vários povos de um território que conhecemos como Espanha. Isso não acontece nem nunca aconteceu, sobretudo porque algumas das nações mais ricas de Espanha, nunca precisaram da mão colonial de Castela para o seu progresso, antes pelo contrário. Veja-se que as regiões onde o franquismo teve forte oposição são hoje as mais ricas do espaço espanhol.
Sou Iberista porque acredito na República, na unidade dos vários povos que constituem essas nações e no seu riquíssimo multi culturalismo linguístico, etnográfico, social e fraternal.

Fórum Iberistas:
www.iberistas.com

terça-feira, 8 de abril de 2008